Jóia de Artista
Jóia de artista | Curadoria | Talento | Sônia Gomes
A Talento Joias apresentou em 2019 a quarta edição do Projeto Jóia de Artista que, desde 2016, convida uma artista brasileira por ano para desenvolver uma peça de arte. A edição que traz Fernanda Ingletto como embaixadora do projeto, apresenta a artista mineira premiada Sônia Gomes e faz com que sua pesquisa permeie outros campos.

Atemporalidade é uma característica que norteia a criação das joias da Talento. O que produzimos em nossos ateliês é feito para durar, para passar de uma geração a outra, baseado na excelência dos materiais e das técnicas de ourivesaria e na beleza do design. Nós não seguimos tendências, nós lançamos tendências. A liberdade criativa está no cerne dessa joalheria, fundada em 1990 em Minas Gerais, o berço do garimpo brasileiro, por minha mãe, Terezinha Géo Rodrigues, uma designer autodidata. É justamente esse olhar autoral, instintivo e até visceral que conecta a Talento ao universo das artes.
Estamos na quarta edição do projeto Joia de Artista, iniciado em 2016, quando recriamos o colar de águas-marinhas desenhado pela arquiteta Lina Bo Bardi, expoente do modernismo brasileiro. De lá para cá, já celebramos o trabalho de duas outras grandes artistas: Regina Silveira (2017) e Valeska Soares (2018), com edições limitadas de um bracelete e um colar-anel. Agora, é a vez de Sonia Gomes – e este não poderia ser um momento mais apropriado para essa homenagem.
Nascida em Caetanópolis, uma cidade do sul de Minas, Sonia Gomes se tornou uma artista festejada por sincretizar elementos eruditos e populares em obras que ecoam traços da cultura africana, do barroco mineiro e das tramas e texturas do trabalho manual. A maior parte são esculturas concebidas com tecidos antigos torcidos, costurados e bordados, esbarrando em uma herança afetiva e em um jogo que envolve passado, presente e futuro. O tempo das coisas está explícito na matéria-prima, que guarda memórias de outras vidas e é manuseada para ter uma nova existência, perpetuada em museus e galerias. Gomes prega a união e resgata a ancestralidade negra em um ativismo que dispensa clichês, e por isso mesmo conquistou lugar de destaque no cenário das artes contemporâneas.
Em 2015, foi a única representante do Brasil na Bienal de Veneza. Em 2018, ganhou uma exposição individual no MASP, na qual exibiu, além das famosas esculturas de tecido, uma gaiola posicionada no jardim do museu. Dentro dessa gaiola surgiu um ninho de marimbondos e teias de aranha, que Gomes impediu que fossem removidas.
A história dessa joia de artista começa com este episódio: já na primeira reunião com a equipe da Talento, Sonia falou sobre a vontade de investir na criação de um broche – uma peça atemporal, que se destaca entre as criações da Talento – com o formato de gaiola. O desafio na elaboração de uma joia-arte é sempre o de ser fiel e coerente em relação ao pensamento que permeia a sua trajetória artística, fugindo do lugar comum e, principalmente, aliando a criação aos conhecimentos e técnicas dos ourives e artesãos da casa, liderados por Terezinha. Parece complexo – e é.
No broche de Sonia Gomes, o tecido aparece apenas em um cordão, colocado como opção de transformar a peça em colar. Na gaiola, há um trabalho com filigranas que remete imediatamente aos estofados de rendas e crochês utilizados em suas esculturas, e faz alusões também às chamadas Joias de Crioula, representantes máximas da ourivesaria colonial no Brasil. Dentro das grades está uma pedra bruta, o Topázio Imperial, definida depois de alguns estudos feitos pela artista ao lado dos designers da casa. A singularidade dessa gema, que tem um tom terroso discreto e chique, é fascinante – e ela só pode ser encontrada na região de Ouro Preto.
Primar pelo que é único, diferente e ousado, além de ter a função de enfeitar a mulher, está na essência da Talento.
Fazemos joias que vestem bem – o caimento impecável das peças da joalheria maleável, técnica criada em nossos ateliês, é um exemplo perfeito disso –, produzidas sempre por profissionais afinados e afiados.
Na visita da equipe da Talento à casa-ateliê de Gomes, em São Paulo, com a presença do curador Waldick Jatobá, um dos idealizadores do projeto, a artista contou que, após um 2018 complexo, cheio de vibrações muito intensas, o Joia de Artista chegou em um momento em que ela buscava um descanso das cores vibrantes, que normalmente utiliza em seu trabalho. É uma espécie de intervalo, ela garante. Durante as entrevistas para o livro, tocou em assuntos delicados.
Relembrou a infância de afetos fragmentados, falou da arte encarada como uma necessidade pessoal, um caminho de libertação, e exaltou o significado poético de expressões que permeiam seu universo. Verdade, coragem e liberdade são três palavras usadas por Sonia Gomes para definir sua obra. E elas se encaixam perfeitamente no caso da joia desenhada para a Talento: uma peça rara feita para guardar uma preciosidade bruta, que joga luz em um Brasil do passado e incorpora o momento presente para transformar memória em arte.


